A Tradição Tifoniana


Por Fernando Liguori



Nota

Existe uma grande controvérsia a respeito do que `é' a Tradição Tifoniana e qual é a sua diferença, p.e. da Tradição Draconiana. Ainda, muitos estudiosos dizem que elas são as mesmas, mas não são. A Tradição Tifoniana foi o Culto Draconiano `sistematizado' no antigo Egito. Quando o Culto Draconiano saiu da África Primal1 ele atingiu sua apoteose nas Dinastias pré-monumentais do antigo Egito, se tornando `ali', a Tradição Tifoniana. Entretanto, o Culto Draconiano é o substrato primêvo de todas as grandes religiões centradas no Culto a Deusa Primordial e seu filho, e seus traços mais marcantes são encontrados no Vodu, no Tantra Hindu, no Sistema Kahuna Polinésio e nos Cultos
Xamânicos Sul-Americanos e Asiáticos.2



Definição da Tradição Tifoniana


O termo "Tifoniana" já fora usado extensivamente no século XIX pelo brilhante Gerald Massey ao longo de suas obras de religião antiga, como uma descrição para àquelas pessoas que adoraram a Deusa Primordial, identificada nos céus como a grande constelação da Ursa Maior. A adoração desta deusa precedeu todas as formas de adorações masculinas e sua essência ainda hoje é refletida como a `Mãe Natureza'. Já fora provado que nesta fase primordial da civilização o papel do macho na procriação não era compreendido. Nesta concepção, gravidez e nascimento eram processos misteriosos que envolviam a fêmea que parecia se dividir enquanto dava a luz.

Nesta fase à deusa Tifon e seu Filho Seth eram tidos como `uma entidade comum' na concepção teogônica desta Tradição.
A civilização evoluiu ocorrendo assim uma mudança gradual de percepção, a adoração moveu-se de uma fase matriarcal lunar (a deusa) para uma fase patriarcal solar (macho-deus). Antes dessa mudança de percepção, o papel do macho na procriação era incompreendido e o resultado desta incompreensão significou um balanço dramático no pêndulo universal e o princípio masculino cresceu em maior ênfase que o princípio
feminino. As deidades não escaparam deste mar de revisionismo e a guerra outorgou ao deus masculino a supremacia, instaurando assim uma nova ortodoxia. Àqueles que não se renderam ao novo culto e continuaram sua adoração a deusa primordial, foram taxados como antiquados, depois como estranhos e perversos, e finalmente como uma ameaça. A visão solar foi consolidada em uma política de estrutura patriarcal de sociedade e isso conduziu na instauração generalizada de uma adoração solarita que mais tarde seria a concretização de um conflito político gerando perseguições aos adoradores da deusa. Os Adeptos da "Velha Tradição Tifoniana" sofreram com o resultado.

Os Tifonianos então passaram a serem vistos como opositores, àqueles que iam contra as tradições contemporâneas. Ao longo das dinastias egípcias, Seth, Seth-Tifon ou só Tifon recebia uma descrição mitológica como "opositor", tendo Seth preso em uma batalha perpétua contra Horus. Deve ser levado em consideração pelo leitor que a mitologia sempre acompanha a mudança de paradigma que envolve os povos. Assim, as lendas mitológicas sempre descrevem essa mudança de paradigma se contradizendo com descrições mais antigas. P.e., nas dinastias solaritas, Tifon é descrita junto com Seth como "o tormento perpétuo" de Horus, ao contrário de Deusa Primordial de tempos mais remotos. No mundo Juidaico-Cristão, cuja tradição fora influenciada pela civilização Egípcia, o opositor foi identificado como Satanás (Satã), Lúcifer, o Diabo. O termo "Satã" é derivado de uma conjunção entre o Deus `Seth' e a Deusa Lunar Egípcia `An'. Nestas tradições, a mulher é retratada como a `sedutora' que, com o uso do sexo, sensualidade e desejos corporais é considerada imoral e suja. No Judaísmo ortodoxo p.e., que tem a autoridade patriarcal calcada no Velho Testamento, a mulher, durante seu período menstrual é segregada porque é considerada impura. Em tempos modernos, o extremo horror da misoginia está arraigada na religião patriarcal onde milhares de mulheres são torturadas como bruxas hereges por causa de seu culto a Deusa Primordial.

Este medo irracional do `feminino' desde a Idade Média diminuiu, embora ainda haja essa ignorância em tempos recentes, veja p.e. os movimentos de propriedade feminina dos anos sessenta.

A Tradição Tifoniana deveria ser encarada sob a luz do `reparar' o equilíbrio entre os sexos, encorajando o princípio feminino em uma nova idade de esclarecimento. Isso não significa uma restauração da adoração a Deusa Primal, mas um equilíbrio entre os princípios femininos e masculinos.

Outra derivação do termo "Tifon" é a sua afinidade com a palavra "Tufão"3. O Tufão é uma poderosa força de destruição centrípeta. É a "Força & Fogo" caracterizada pela descrição do advento do Aeon de Horus que desde 1904 instaurou catástrofes e destruições no mundo. O Tufão entra em uma área previamente tranqüila e instaura o Caos pela destruição que causa. Contudo, essa destruição é a mudança cíclica tão
compreendida pela magick, i.e. existe a necessidade de se colocar sobre o solo as antigas estruturas para que o novo possa ser erguido. Assim, ainda hoje o termo "Tifon" causa pânico, isso se dá pelo fato de que pessoas não preparadas para mudanças repentinas sofrem com os `venenos' emanados pela fórmula mágica da Tradição Tifoniana, i.e. a mudança brusca e repentina causada pela força do Tufão. Seu impacto na consciência causa mudanças bruscas, tanto internas quanto externas e isso pode levar ao que chamamos de `efeito dominó'. Em curto prazo isso pode representar enormes dificuldades, e nós, Adeptos desta Tradição, devemos estar preparados pare este desafio.

A perspectiva Tifoniana, entretanto, é muito mais ampla do que a consciência humana é capaz de perceber. Essa perspectiva Tifoniana é uma consciência cósmica. O que nós fazemos em nosso trabalho mágico é ampliar nossa consciência humana além dos Círculos do Tempo e do Espaço para conseguirmos captar as emanações estelares desta Corrente Mágica.4

Existem inúmeras interpretações para o termo "Tifoniano". A implicação, porém, é sempre a expansão de consciência além dos níveis normais de percepção. Assim, nós somos interpretados como opositores por sermos Tifonianos, todavia, hoje em dia, essa oposição está relacionada com a aceitação de uma visão limitada de nós mesmos. O poder do Tufão destrói essa falsa percepção de `si mesmo' de maneira a podermos `perceber' um Universo além dos Círculos do Tempo e Espaço.



O Aparecimento da Tradição Tifoniana


O `AL vel Legis' I:56 declara que "Todas as palavras são sagradas e todos os profetas verdadeiros; salvo unicamente que eles entendem um pouco; resolvem a primeira metade da equação, deixam a segunda inatacada." Os últimos 100 anos viram o nascimento de uma nova eternidade, um esclarecimento que traz a luz de uma nova liberdade escolar livre da falsa superstição. Isso aumentou nossa consciência histórica e derramou abundante luz na supressão violenta do pensamento humano e da espiritualidade que estavam sob o domínio dos líderes da Cristandade. As cruéis perseguições patriarcais ameaçavam o livre-pensador que tinha de se proclamar Cristão para se salvar das torturas
e da selvageria. Surpreendentemente, a Igreja Católica era sempre o culpado maior. Era essa uma das predominantes razões para o segredo da tradição oculta: proteger os Iniciados das escolas de mistérios, bem como seus segredos de Iniciação dos espreitos olhos da autoridade religiosa Cristã. A palavra "oculto" inserida no nome `ocultismo' reflete esses mistérios escondidos. Contudo, não era somente a Igreja Cristã, em seus vários disfarces, que suprimiam as informações dos julgados heréticos. No Antigo Egito cujas dinastias atravessaram mil anos, a batalha espiritual sob a luz do domínio político-religioso levaram a perseguição dos adoradores da Deusa Primordial. Historicamente, o
mito de Seth e Horus, os dois irmãos que se digladiavam pela supremacia é uma representação mítica da luta dos Solaritas contra os ifonianos.

O Deus Seth que é simbolicamente representado pelo Planeta Saturno (Binah), `o Planeta por trás do Planeta' Vênus, é representado pela Estrela Sírius, o `Sol por trás do Sol'. Efetivamente isso simboliza Seth como o Iniciador, a Verdadeira Fonte Criativa da Influência Vibrante que cria a expansão da consciência. Mas Seth fora taxado como maligno após o crescimento de lendas que expressavam um simbolismo de falsa-moral, p.e. o mito de Caim e Abel. Contudo, em contra partida, o mito da Besta Selvagem e da Mulher Escarlate expressa a natureza da expansão da consciência promovida pela vibração astral de Seth. Mas tais mitos servem como um teste de iniciação que podemos chamar de `teste de intenção', mantendo o profano afastado dos mistérios. Assim o poder do Tufão (Seth) como mudança que a Iniciação traz, orresponde àquela batalha eterna na natureza entre a ordem e o caos. Psicologicamente, a Iniciação no Deserto de Seth (Tufão) causa caos porque desafia e destrói os modos condicionados de pensar e da falsa-percepção. Portanto, é uma ameaça ao estado condicionado e ortodoxo daqueles que
"entendem um pouco".

Claramente, a Tradição Tifoniana é uma Tradição de Iniciação e Iniciação é Realização. Aqueles que souberam interpretar os espetáculos dos mitos durante a história da humanidade compreenderam os sistemas de Iniciação promovidos por esta egrégora.

Na Árvore da Vida, o glifo do Planeta Saturno e do Deus Seth é a Sephira Binah (Compreensão). Esta Tradição durante a história das civilizações se mascarou sob numerosas formas, mas seu espírito visionário continuou intacto. É importante reconhecer este fato como mágico, assim aplicamos a ele um termo conhecido como parampara.5 Isso significa que a Tradição se expandiu externamente, extraterrestremente iluminando a consciência do homem em fases distintas da evolução. Estas reverberações, quando efetivamente canalizadas, agem como um manancial criativo de vibração. Esse manancial está oculto para a maioria dos cientistas e religiões fundamentalistas. Algumas personalidades como Austin Osman Spare, Salvador Dali, Leonardo Da Vinci, Isaac Newton e etc., eram ocultistas e descreviam a ciência como uma prosperidade mágica.

Com o advento do Novo Aeon, Aleister Crowley deu início ao renascimento da Tradição Egípcia pré-dinástica de Seth-Tifon em oposição a Trindade Osiriana. A diferença essencial entre os dois Cultos é a ênfase que se coloca sobre o princípio do gênero de Seth-Tifon, a Mãe Virgem e seu Filho em oposição ao Culto Osiriano representado pela paternidade individualizada.

Neste contexto, este renascimento deveria ser notado pois O Livro da Lei é uma poderosa transmissão Tifoniana para uma nova era de veneração e reconhecimento do principio feminino. Este princípio no Livro é chamado de Nuit, o Círculo em Expansão Infinita. Entretanto, distinto da dourada era Tifoniana Egípcia, o principio masculino também tem seu lugar reconhecido. Ele é o ponto onipresente conhecido como Hadit. Em Magick em Teoria e Prática Crowley enfatiza:


O Espaço infinito é chamado a Deusa NUIT, e o ponto infinitamente pequeno e atômico, no entanto, Onipresente, é chamado de HADIT. Estes são imanifestos. Uma conjunção destes dois infinitos é chamada RA-HOOR-KHUIT, uma Unidade que inclui e dirige todas as coisas.

Essa Tradição não tem nenhuma semelhança à obscura idade dos deuses agonizantes cujo paternalismo desequilibrado causou sofrimento desnecessário. Contudo, o Culto revivido pelo O Livro da Lei está completamente em comunhão com o Equilíbrio de Energia Criativa Ígnea de Mäat combinando harmoniosamente a qualidade feminina de intuição delicadamente conjugada a receptividade. Seth é o Deus da Iniciação e Saturno é o Planeta do Karma. A Iniciação se dá desobstruindo, i.e. destruindo bloqueios indesejados para o progresso iniciático. O caos causado pelas conseqüências do Karma é uma parte essencial do processo de Iniciação sendo percebido em um estado cíclico uniforme.
Todavia, para aqueles que absorvem a essência da Tradição Tifoniana, os véus opacos são rasgados de maneira que a verdadeira luz dá o brilho necessário a este tema porque Karma é o que chamamos de "consciência de pecado".

Crowley lutou muito por suas descobertas e deu início a modernas compreensões. Isso criou um caos porque amedrontou os ocultistas ortodoxos que não conseguiam perceber a visão de Crowley e chafurdados em seu `sono' de consciência, se apegavam a velhos conceitos já revogados do velho aeon. Crowley por toda sua vida foi perseguido por aqueles que não lhe compreendiam, assim como os Osirianos e Cristãos "endiabraram" a Criativa Força do diabo Seth ou Satã. Crowley ensinava àqueles indivíduos que buscando a verdade, adotavam o título ou a posição de Tifonianos e é curioso notar que Crowley declarava que seu Sagrado Anjo Guardião era Shaitan-Aiwass, uma forma de Seth, o Iniciador.6

Felizmente as atitudes estão mudando! Crowley suportou, ainda que com todas as suas faltas pessoais, inúmeras dificuldades para colocar em funcionamento as fundações espirituais de nosso Novo Aeon. Invocando Seth-Horus ele nos deu a verdadeira noção de nossa divindade interna e nos ensinou o modus operandi para a ativação e realização deste potencial criativo ilimitado.

O trabalho de Crowley foi continuado e perpetuado até hoje por alguns ícones da Filosofia thelêmica. O primeiro a dar `verdadeiramente' continuidade ao seu trabalho foi Frater Achad que descobriu a Chave para O Livro da Lei e anunciou as premissas do Aeon de Mäat pela primeira vez em 1948, quarenta e quatro anos após do Equinócio dos Deuses que Crowley denominou como o Aeon de Horus. Os estudos qabalísticos de Achad derramaram muita luz para nosso crescimento espiritual e nos fez compreender o conceito de Espaço e Tempo calcando a base e o fundamento científico da Tradição Tifoniana. Ele também descobriu o verdadeiro significado da Trindade Thelêmica (93).
Outro ícone de importância no atual contexto é Kenneth Grant que assumiu o controle do ramo Inglês da O.T.O. em 1955, fundando uma Loja chamada Nova-Isis para canalização vibracional de forças além de nosso Sistema Solar. Os frutos de seu trabalho foram registrados nas suas obras que expõem suas descobertas desenvolvendo o processo que Crowley havia iniciado muitos anos antes. Estas descobertas foram cientificamente comprovadas sob a luz de uma nova perspectiva. Tais descobertas formaram a Ponta da Lança do Sistema Tifoniano durante os últimos trinta anos atraindo inúmeras pessoas sob uma nova Gnosis para o caminho da Iniciação. A Tradição Tifoniana em efeito é um
Tufão, um Vendaval, uma Vibração Fundamental de expansão da consciência que tem um papel importante evolução da humanidade.


A Tradição Tifoniana Hoje


Deveria ser prontamente notado que quando nós dizemos "Tifoniano", queremos dizer muito mais do que a Deusa Tifon e seu Filho Seth. Assim, como nos aprofundamos na questão histórica, está na hora de adentrarmos na questão mais importantes deste tema: a
relevância desta Tradição hoje, seus benefícios e o que ela pode trazer ao moderno Iniciado.


Daqui em diante alguns véus serão levantados para que o `verdadeiro' processo iniciático formulado por esta Tradição Tifoniana sejam rasgados e a luz sobre o tema seja um foco ou brilho que afete os níveis de percepção espiritual do leitor.

A Tradição Tifoniana representa a Força e o Fogo e sua aplicação representa uma aspiração e devoção no coração de cada Iniciado. Esta é a Flama de Hadit que queima no coração de cada Homem. Da mesma maneira, a shakti que é a Kundalini-Shakti que dá a cada Iniciado o poder de suportar a manifestação vibracional da Tradição Tifoniana que se manifesta como existência Una. Não obstante, para a maioria das pessoas uma individualidade desordenada aparece ao se iniciarem nesta Tradição. Mas este é o Poder do Tufão no qual temos de aprender a trabalhar para o desenvolvimento de nosso processo iniciático até que o senso de individualidade possa ser dissolvido. Isto acontece porque tudo em todo Universo está conectado ao seu duplo.

Entretanto o trabalho parte sempre de um princípio. Embora a consciência seja um princípio contínuo, o ser humano possui um senso egóico o qual necessita trabalhar e purificar. A Iniciação, compreensão e purificação que este processo requer variará a cada pessoa. É uma falácia da mente crer que há uma fórmula prescrita ou uma `apostila' passo a passo para este processo. Isso não existe, da mesma maneira que não existe uma fórmula para felicidade absoluta. Mas o que nós podemos fazer é aplicar princípios mágicos ao nosso Dharma ou padrão de ser, nossa Verdadeira Natureza. Cada pessoa se desenvolverá de maneira diferente no caminho iniciático e na descoberta de seus próprios egos e essência, o que o levará a um caminho onde possa estar em maior contato com o Universo. Um exemplo clássico de uma discrepância espiritual entre indivíduos é a aproximação e apego ortodoxo a um texto mágico-religioso como p.e. O Livro da Lei.

Essa transmissão espiritual, i.e. o `AL vel Legis', tem, no passado quanto no presente, recebido inúmeros comentários ilustres, mas seu valor mais precioso é o que ele significa `pessoalmente' para nós mesmos, i.e. a experiência espiritual direta que nós ganhamos com sua utilização pessoal, permitindo que seu Fogo ilumine os íntimos intervalos cíclicos de nosso Verdadeiro Ser. Desta maneira o Iniciado transcende as especulações filosóficas e entra em contato com seu verdadeiro espírito. Fazendo isso o Iniciado pode tecer seus próprios rituais e meditações em relação aos versículos mais particulares e especiais para ele.

A Iniciação é um Caminho Interno, solitário, embora paradoxalmente isto nos conduza sempre para o exterior. A idéia é simples e afeta cada instante de nossas vidas, p.e. o fato não é você ouvir qual é a sensação de se beber um copo d'água, mas sim bebê-lo, experimentá-lo. É uma viagem a fonte do Nilo em busca de um manancial interno.

Quando o Iniciado descobre isso realmente, ele encontra seu Real Guru, aquele que deveria ser a principal fonte de sua preocupação e busca espiritual, sua projeção interna mais sublime, o Sagrado Anjo Guardião.

A Consciência é um continuum. Subconsciente, inconsciente, supra-consciência e etc., são meras classificações que dão definições a certos aspectos deste continuum. Nós podemos falar: `nossa consciência', mas isto é uma ilusão. Nós não possuímos consciência, não obstante, é ela que nos possui e opera por nós. Ainda, nossa consciência é um fluxo constante e não um paralelo fixo para `trocas' de consciência de um momento para outro. Este é um processo que classificamos como `Obscura Consciência'. A Iniciação deveria ser considerada o processo da dissolução dos véus dessa Obscura Consciência.


Às vezes pode demorar algum tempo para que o Iniciado conclua que tudo o que existe é consciência em transição, agregações inconstantes e instáveis que aparecem diante dele como uma forma estável. As práticas místicas de várias tradições possibilitaram os antigos Iniciados a perceberem estes processos. O ser humano não consegue perceber todos os processos da consciência, sua faixa de consciência é bastante
estreita e está acostumada a evoluir por convulsões em detrimento da realidade de sobrevivência e tudo àquilo que se vincula a este processo instintivo. Entretanto, é vasto o campo de progressão da consciência e práticas mágicas ou místicas podem, efetivamente, expandir a consciência além da percepção cotidiana do homem profano.

Meditações regulares e exercícios respiratórios como pranayama têm efeitos drásticos, embora seus efeitos sejam na maioria das vezes externos no decorrer das práticas.

Contudo, o impulso habitual, a prática contínua, disciplina a mente e o corpo tendo um efeito permanente tornando a Iniciação um modo de vida irresistível. Isso significa que a ampliação da consciência foi contínua e permanente. Quando isso ocorre nós nos damos conta de nossa crescente individualidade (identidade) e nos afastamos cada vez mais da máscara de nossa humana encarnação. Essa é uma aspiração gloriosa da Flama Interna de Hadit e o Iniciado deveria se esforçar por obter estes resultados como os Magos, Feiticeiros, Xamãs e Bruxas...
O ser humano está em sua existência cotidiana completamente adormecido: sonhado.

A Iniciação é um processo onde o homem, sofrendo as convulsões do Poderoso Tufão pode acordar. Isso é simples assim! Tradições diferentes com terminologias diferentes, essencialmente, chegam a este mesmo ponto: a sublime divisão entre o sonho do profano e o despertar do Adepto. O Iniciado pode escolher o processo que quer para seu trabalho com a Kundalini saltando de um sistema para o outro ou adentrarem neste Grande Colegiado Espiritual que é a Tradição Tifoniana e desfrutar do Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. Embora os sistemas sejam em grande parte diferentes entre si, eles compartilham de um único objetivo: o transcender das humanas
limitações em busca de uma maior ampliação da consciência em níveis perceptuais.

Anteriormente eu mencionei o fato de que o Coração da Tradição Tifoniana é a Força e o Fogo. Mitologicamente esse processo é demonstrado pela Serpende ou o Dragão das Profundezas, uma poderosa entidade que emerge das profundezas da consciência repentina e silenciosamente causando sua grande devastação. O que é devastado é a restrição da consciência humana. "Eu não trago a paz mas a espada." Essa é uma intrusão da consciência humana por poderosas forças internas, atávicas. Essa mesma idéia está inserida na Gnosis Lovercraftiana como no Culto de Cthulhu, o deus que salta das profundezas do `Mar' após estar adormecido pelas idades.

O Sagrado Anjo Guardião é uma entidade que efetivamente é encontrada por aqueles que verdadeiramente percorrem o caminho da iniciação. Ele não é uma entidade extática ou objetiva, mas um rápido olhar para Eternidade. A consciência é protoplasmática, troca seus fluídos constantemente, se expande e se contrai. Como a consciência pode ser refinadamente expandida, em virtude das experiências mágicas e místicas, essa consciência cósmica crescentemente entra em um estado de ruptura da mesma maneira que nubla o brilho do sol. Nestas etapas, a qualidade da experiência do magista é aumentada pelo tipo de iniciação que está a percorrer porque por mais cobiçoso que possa ser, a mente não pode saltar e agarrar o infinito e eterno por sua perspectiva passageira, entretanto a consciência pode ser transportada para fora dos Círculos do Tempo e Espaço por um momento, sofrendo assim as infinidades do divino, se objetivando com o Anjo. A inércia do grande oceano da consciência assimila os redemoinhos do êxtase espiritual, dos menores para os maiores. É assim que o Anjo se `move' para o aspirante de tempos em tempos e na ocasião certa. O aspirante sente quando é chegada à hora e se `abre' para a conjunção suprema.
Como mencionei antes, o Real Guru é interno e em condições thelêmicas isso representa a Verdadeira Vontade que é mais uma `faceta' da Vontade Universal ou Consciência Cósmica. Uma vez que o Adepto descubra sua Verdadeira Natureza, o alinhamento com ela deveria ser automático, embora não seja tão fácil, ele possui o impulso do Universo atrás dele. Ele deve chegar a ponto de compreender que todos os
Instrutores e Gurus espirituais externos são exteriorizações do Real Guru ­ a Verdadeira Vontade.

Para alguns de vocês que neste momento lêem este artigo, tudo isso pode soar abstrato ou confuso, mas realmente é muito simples. Existe em nossa Iniciação uma direção e um impulso, uma força gravitacional que nos puxa. Através de práticas constantes e de muita disciplina a consciência é refinadamente expandida. A constante disciplina para o progresso apressa nossa forma evolutiva e com certeza pode nos `salvar'
das dores de diversas encarnações ao caminho do nirvana. Dedicação, persistência e disciplina são absolutamente essenciais para a ampliação permanente da consciência para que o Adepto colha as recompensas da transcendência espiritual.

Alguns dos leitores já ouviram falar nas entidades præter-humanas. Este termo denomina entidades que estão `além' dos seres humanos. Nas tradições ocultas tais entidades são consideradas fora do alcance geral de manifestação humana e não estão sujeitas as mesmas leis de tempo e espaço que operam nossa dimensão. As histórias mitológicas estão repletas de contos do tráfego destas entidades com o ser humano. P.e.,
Moisés recebendo os Dez Mandamentos; a conversação de Saul na estrada para Damasco; as sessões de John Dee e Edward Kelly com os Anjos Enochianos; e o contato de Aleister Crowley com Aiwass, Amalantrah e Abuldiz. O contato com tais forças normalmente é considerado benéfico e o resultado desta comunicação é um elixir de novos conhecimentos e um entendimento mais amplo do Universo externo e interno.
Existem muitas especulações que deste 1947 (com a crise nuclear) inúmeros contatos com UFOs foram travados. Mas esse tema foge ao nosso estudo.
Embora seja de meu conhecimento que tais seres sempre travam contato com Iniciados, na maioria dos casos o magista ou aspirante deve possuir um trabalho interno (mágico) bem feito e elaborado, talvez por muitos anos, antes de poder contatar e manter tráfego com estas entidades. O propósito e benefício deste trabalho está claro para àqueles que assim o fazem. O corpo humano deve estar preparado para o impacto das vibrações energéticas præter-humanas. Ainda, deve haver um refinamento na percepção e na sensibilidade de forma que tais contatos sejam verdadeiramente efetivados. Com a devida preparação, um magista treinado e disciplinado não é enganado por entidades
hostis do plano espiritual. É comum vermos aspirantes achando que em prévias vidas foram Hitler, Jesus, Crowley e etc. Na maioria das vezes sua descoberta veio por meio de uma revelação espiritual, fruto do contato com entidades espirituais. Enquanto o aspirante não for bem preparado, tentará de todas as maneiras travar contatos com tais entidades, contudo, ele parecerá um rádio velho ou desajustado onde somente extática e ruídos desconexos são sintonizados. Não podemos nos esquecer que nossa consciência é contínua e que somos cercados por entidades que, como uma multidão de agregados passageiros, lutam pela nossa atenção.

Existe uma Inteligência præter-humana que é, modernamente dizendo, associada a Tradição Tifoniana. Ela é conhecida como Lam.7 A primeira publicação oficial da AA (Argenteum Astrum) a apresentar o retrato de Lam foi o The Blue Equinox de 1919. O primeiro contato de Crowley com esta Inteligência foi no curso da Operação de Amalantrah, no mesmo período. Sua imagem hipnótica traz uma forte semelhança com os E.T.s que vemos nos filmes modernos, embora sua pintura houvesse sido efetivada anos antes deste arquétipo ser estilizado no inconsciente coletivo. Pode ser dito que os atuais cultos ufológicos têm mitificado de certa maneira as condições destas entidades e a
incursão externa extraterrestre poderia ser considerada como um efeito consciente.

Ao recorrer a Lam, esta Inteligência Præter-Humana, geralmente, uma pergunta é feita: "Ele é uma entidade ou uma energia?" O problema surge quando há uma tentativa de ver algo não-humano do ponto de vista de uma perspectiva humana, assim categorizações tendem a desmanchar todo o trabalho prático contido nesta Inteligência. Os físicos nucleares enfrentam um dilema semelhante no nível subatômico, pois seria inseguro definir o quantum como uma partícula ou como uma onda de energia.

Quem sabe, talvez, Lam deveria ser considerado como uma máscara, ocultando assim áreas de nossa consciência além de nossa consciência normal. O Tráfego com Lam pode levar o Adepto a experimentar e desfrutar de um nível de percepção mais profundo de nossa consciência. Esta é a essência dos contatos com tais entidades.

Desta maneira o homem se esquece "de pequenos homens verdes em ternos engraçados" que é a maneira humana de se observar o desconhecido, e começa a experimentar um oceano vasto que é a consciência colocando as faltas humanas e as dificuldades em uma perspectiva mais equilibrada. Esta é a colheita do humano para com o Præter-Humano. Como este é um assunto que nos interessa bastante, uma Célula desenvolvendo o Culto de Lam está agora em operação dentro da O.T.O. e seus resultados serão logo publicados, com a possibilidade no futuro, da participação externa para os interessados.

A Tradição Tifoniana deve ser observada como o efeito de transformação através do contato com essas forças que estão além da consciência humana. O propósito disto é ampliar a consciência humana, tanto externa quanto interna enriquecendo as infinitas possibilidades espirituais. Existe um grande espaço interno que atravessa uma faixa de freqüência muito larga da qual nós formamos uma fração. Entendendo isso, o Adepto anseia pelo contato externo através dos Portais do Exterior se preparando para o efeito do vendaval que isso acarretará na consciência. A taxa da adaptação da consciência neste processo é a chave da sobrevivência e da sanidade do Mago e seu sucesso, como sempre, é o pivô de uma evolução contínua como ser humano.

Abraçando a Tradição Tifoniana nós abraçamos nosso destino com uma energia criativa e ígnea que nos levará a novos mundos antes imperceptíveis para nós. Alegria e equilíbrio harmonioso formarão a parte essencial de nosso sublime sonho escolhido quando subirmos e bebermos no Cálice brindando o sucesso de nosso verdadeiro testamento alinhado a nossa Verdadeira Vontade.

 

1.     Veja Culto das Sombras, Grant, Capítulos 2 & 3.

2.     Veja o artigo Anuttara Amnaya & a Escola Kaula, por Fernando Liguori.

3.     "Typhon" = Tifon e "Typhoon" = Tufão.

4.     A O.T.O. se vale de técnicas psico-sexuais para abertura de portais transplutonianos a fim de canalizarmos essa Corrente.

5.    A O.T.O. funciona como uma rede cósmica, porque seus membros não estão — em um sentido mágico — centrados sobre a Terra. Suas zonas de atividade oculta estão localizadas nos espaços os quais incluem e transcendem simultaneamente níveis astrais de consciência. A O.T.O. é controlada por contatos dos planos interiores focados hoje através de um grupo de correntes individuais canalizadas fora dos Círculos do Tempo e Espaço.

6.     Veja Aleister Crowley & o Deus Oculto, Kenneth Grant, Capítulo 1.

7.     Veja o artigo O Culto de Lam, por Fernando Liguori.

 

© Fernando Liguori
Shaitan-Aiwass

 

 






Traduções portuguesas

Peter-R. Koenig: Introdução à Ordo Templi Orientis.
P.R. Koenig: Os Espermo-Gnósticos e a Ordo Templi Orientis.
P.R. Koenig: Criação Extática de Cultura.
P.R. Koenig: A Aura do Fenômeno O.T.O.
P.R. Koenig: O Ambiente do Reich dos Templários — Os Escravos Servirão.
P.R. Koenig: Fetiche, Auto-Indução, Estigma e Rôleplay.
P.R. Koenig: Versão Jogo de uma O.T.O.–Fatamorgana.
P.R. Koenig: Carl Kellner Jamais um membro de qualquer O.T.O.
P.R. Koenig: Theodor Reuss: Avô da Sociedade Antroposófica?
Theodor Reuss: Programa De Construção E Princípios Orientados Dos Neocristãos Gnósticos O.T.O. 1920.
T. Reuss: I° Grau.
P.R. Koenig: Carl Willian Hansen – Dinamarca.
P.R. Koenig: The History of the O.T.O. in America.

Documents on Oscar R. Schag in the context of Jane Wolfe, Marcelo Ramos Motta, Karl Germer, Hermann Joseph Metzger.

Marcelo Ramos Motta: Ritual de Iniciação do Grau I O.T.O.
Marcelo R. Motta: Carta A Um Maçon.
  • Marcelo R. Motta: Lettre à un maçon brãsilien.
  • Marcelo R. Motta: Letter to a Brazilian Mason UNEXPURGATED.
  • Bibliographic Note and Addendum to "Letter to a Brazilian Mason by Marcelo Ramos Motta".
    Marcelo Ramos Motta to Karl Germer, July 2, 1954.
    Marcelo Ramos Motta about Paulo Coelho and others.
    Marcelo Ramos Motta: The Development of a Secret Society in America in the Years 1957-2000.

    P.R. Koenig: O Conquistador do Graal.
    P.R. Koenig: Uma O.T.O. no Brasil.
    Euclydes Lacerda de Almeida - Marcelo Ramos Motta - Kenneth Grant: Documentos 1966-1997.
    Marcelo Motta palavras com Euclydes Lacerda de Almeida, 18 de dezembro de 1973.
  • Translation of Marcelo Motta's tape to Euclydes Lacerda, dated 1973.
  • Euclydes Lacerda de Almeida: Marcelo Ramos Motta — Um Enigma.
    Claudia Canuto de Menezes: Conheci Marcelo Ramos Motta nos idos anos 70.
  • Claudia Canuto de Menezes: I met Marcelo Ramos Motta in the 70’s.
  • Euclydes Lacerda de Almeida: Emails to P.R. Koenig.
    Marcelo A.C. Santos: A Verdadeira História do "Califado" no Brasil.

    Kenneth Grant/Eugen Grosche: Manifesto da Ordem Interna "O.T.O." Orientis Britânia 1955.
    P.R. Koenig: Kenneth Grant e a O.T.O. Tifoniana.
    P.R. Koenig: Plano 93 do Espaço Exterior.
    Michael Staley: O.T.O. Tifoniana — Uma Breve História.
    Kenneth Grant: Concernente ao Culto de Lam.
    Michael Staley: Lam: O Portal.
    Michael Staley: Um Instrumento de Sucessão.
    Michael Staley: Ã Um Vento Ruim que Sopra ...
    Michael Staley: Lam Workshop.
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    Fernando Liguori: Influência Tifoniana.
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    Walter Jantschik: A Animação do GOTOS.
    Walter Jantschik: A Ordo Baphometis. Uma ordem mágica hermãtico-gnóstica.


    Michael Staley, 2003: "Não existe 'Typhonian O.T.O.' Brasileira; nem nada semelhante a isto. Ninguãm está autorizado a representá-la em nosso nome, ninguãm tem nossa benção. Todas e quaisquer alegações são fraudulentas."
  • Michael Staley, 2003: "There is no Brazilian 'Typhonian O.T.O.'; nor is there likely to be. No-one is authorised to act on our behalf, no-one has our blessing. All such claims are fraudulent."




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